O trabalho escravo no mundo greco-romano, segundo o historiador Perry Anderson
Na Grécia, os escravos foram empregados pela primeira vez na manufatura, na
indústria e na agricultura, assim enquanto o uso da escravidão se generalizava,
sua natureza se tornava absoluta: já não era mais uma forma de servidão
relativa entre muitas, e sim uma condição polarizada da perda de liberdade.
Pois foi uma subpopulação escrava que elevou a cidadania grega, que até então
era desconhecida de liberdade jurídica. A escravidão e a liberdade helênicas eram
indivisíveis, isto é, uma era a condição estrutural da outra, num sistema
dialético. Essa mudança jurídica foi o correlato social e ideológico do “milagre”econômico
forjado pelo advento do modo de produção escravo. A civilização da Antiguidade
clássica representou o poder, diferente da cidade sobre o campo, numa economia rural:
uma antítese do mundo feudal primitivo que lhe sucedeu. A condição para a
possibilidade dessa grandiosidade metropolitana na ausência de uma indústria
municipal era a existência do trabalho escravo no campo.
Aristóteles apresentou a resultante ideologia social da Grécia tardia com esse observação: “Aqueles que cultivam a terra devem idealmente ser escravos, nem todos recrutados de um só povo, nem ardentes no temperamento, ou, não tão idealmente, servos bárbaros de semelhante caráter”. Era normal do modo de produção escravo desenvolvido no campo romano que até funções de administração fossem dadas a escravos supervisores e feitores que, colocavam os outros escravos para trabalhar nas terras. O que unia um produtor rural e um apropriador urbano de sua produção era o ato comercial e universal da compra de mercadorias nas cidades, onde o comércio escravo tinha seus próprios mercados. O trabalho escravo na Antiguidade clássica incorporava dois atributos contraditórios, por um lado, a escravidão representava a mais radial degradação rural imaginável do trabalho. Na teoria romana, o escravo era designado como um instrumentum vocale, um grau acima do gado, que constituía um instrumentum semi vocale, e dois acima do implemento, um instrumentum mutum.
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